04 outubro, 2023

Inquisição no Brasil: como o Tribunal do Santo Ofício perseguiu brasileiros por séculos.

Quase dois mil brasileiros foram julgados pelo tribunal formado por membros da Igreja Católica Apostólica Romana. Judeus ibéricos (Espanhóis e Portugueses) que eram obrigados a abandonar a própria religião foram condenados no Brasil:


    Quando se fala em Inquisição, é comum pensar em mulheres, apontadas como bruxas, amarradas a troncos enquanto são queimadas vivas em uma pequena vila do interior da Europa. Acontece que a Inquisição, em seu período mais mortal, funcionou principalmente em cidades – e algumas delas localizadas, inclusive, fora do continente europeu, em países como Índia e Brasil.

    Ao longo dos 285 anos da atuação do Tribunal do Santo Ofício em Portugal e nos territórios que compunham o Império português, há estimativas de pelo menos 400 brasileiros condenados por práticas, à época, consideradas contrárias à fé católica, como “judaizar”, homossexualidade, bigamia, feitiçaria e “solicitação”. O número de denunciados, porém, é maior.

    A historiadora brasileira Profª Drª Anita Waingort Novinsky, Z'L (Falecida em 20 de julho de 2021, em São Paulo), em seu livro Inquisição: Rol de Culpados, enumera pelo menos 1.819 habitantes do Brasil denunciados ao Tribunal do Santo Ofício. A maioria destes eram cristãos-novos, nome dado aos judeus convertidos à força ao cristianismo católico por ordem da Coroa portuguesa em 1497.

    Por séculos, cristãos-novos e seus descendentes foram perseguidos pelas forças inquisidoras, que desconfiavam de que estes, na verdade, mantinham suas tradições judaicas no segredo do lar.

    Por sua distância de Portugal, por seu vazio demográfico e sua relativa ausência de normas restritas, os cristãos-novos viram na recém-descoberta Terra de Santa Cruz – nome inicialmente dado ao Brasil pelos portugueses - uma oportunidade de recomeçar. Aqui, eles se tornaram comerciantes, agricultores e se tornaram uma das principais bases de construção da colônia.

    O Santo Ofício, porém, não se restringiu à Europa. Com seus familiares, agentes, visitadores e sedes além-mar, a Inquisição atuou na Colômbia, no Peru, no México, no Brasil e até mesmo na Índia. Aqui, portanto, os cristãos-novos que se instalaram encontraram uma Inquisição ativa e vigilante.

Do outro lado do Atlântico - o começo de tudo:

    Em 1497, o rei Manuel I de Portugal decretou a conversão forçada dos judeus ao cristianismo católico. Este batismo compulsório também criou uma distinção legal: cristãos-velhos, aqueles que já eram católicos à época, e os cristãos-novos, os recém-convertidos.

    Apesar da conversão obrigatória, os cristãos-novos, até pouco tempo judeus, continuavam a ser alvos de acusações, discriminações, processos e ataques no reino católico ultraconservador de Portugal (influenciados pela coroa Espanhola).

    A situação piorou em 1536, quando o rei João III conseguiu, junto ao papa Paulo III, a instalação do Tribunal do Santo Ofício em Portugal. Teve início ali o funcionamento de uma verdadeira máquina judicial, apoiada pelo Estado e pela Igreja, com poder de investigar, denunciar, torturar, punir, exilar e até condenar à morte.

    Inicialmente, a ideia da Inquisição em Portugal era punir os cristãos-novos (judeus convertidos) que mantinham as práticas judaicas em casa. Mas, com o passar dos anos, sua atuação se estendeu para outros “pecados”, como feitiçaria, bigamia, homossexualidade e solicitações.

As diferentes Inquisições católicas da história:

    Os tribunais do Santo Ofício podem ser divididos em dois momentos históricos: a primeira versão, no período medieval, entre os séculos XIII e XIV, com atuação mais concentrada na França, Alemanha e Itália, e a segunda versão, a Inquisição moderna, promovida por Portugal e Espanha a partir do século XV indo até o século XIX.

    A atuação e o cenário político das duas Inquisições foi diferente. A primeira, financiada e conduzida pela Igreja Católica, tinha penas “mais brandas”, embora também usasse a tortura para arrancar confissões. O pano de fundo de sua motivação era o surgimento de seitas heréticas, que davam interpretações diferentes das oficiais à Bíblia Católica.

    A segunda Inquisição, promovida pelos espanhóis e pelos portugueses, possuía penas mais severas, como a morte na fogueira e o confisco de bens. Esta também se diferencia da anterior por ser financiada e até, em parte, conduzida pelo Estado, que atuava junto à Igreja Católica e chegava a escolher os inquisidores.

    Foi justamente desta segunda máquina de perseguição que os cristãos-novos e judeus precisaram fugir entre os séculos XVI e XIX. “Era uma estrutura com todo apoio do Estado e da Igreja. Então como você vai se opor a dois sistemas desses altamente complexos, estruturados?”, pondera o historiador Nilton Almeida, que estuda a presença dos cristãos-novos no Ceará.

    A resposta para esta pergunta muitos pensaram estar na distância. Na época, uma viagem de barco de Lisboa, capital do Império português, até a chamada Terra de Santa Cruz - mais tarde, Brasil - durava mais de um mês. O território brasileiro era praticamente desconhecido dos portugueses e, naturalmente, dos inquisidores.

    Em 1534, dois anos antes da criação da Inquisição em Portugal, a Coroa portuguesa havia definido a divisão do território brasileiro em 15 grandes faixas de terra, chamadas capitanias hereditárias. A primeira expedição portuguesa com objetivo de povoar o Brasil só ocorreu em 1532, portanto, a ocupação das capitanias pelos colonizadores era praticamente nula.

    Este cenário foi considerado uma oportunidade para os cristãos-novos, que, nas décadas seguintes, cruzaram o mar para buscar um recomeço em uma sociedade que estava começando.

    Um dos casos mais chamativos é o de Branca Dias. Nascida em Portugal, filha de pais judeus convertidos à força ao cristianismo católico, a cristã-nova Branca Dias veio para o Brasil após ser denunciada em Portugal por “judaizar”.

    No Brasil, Branca e seu marido, Diogo Fernandes Santiago, obtiveram sucesso no ramo da cana-de-açúcar, com engenhos entre a Paraíba e Pernambuco. Branca formou uma família numerosa no Brasil e é considerada uma das primeiras professoras do Brasil - ela construiu uma escola só para meninas e ministrava aulas de alfabetização (entre outras coisas).

    A matriarca também teria mantido uma “esnoga” (termo sefaradita) de como as sinagogas (termo grego) eram chamadas popularmente pelos judeus ibéricos – clandestina em suas terras. Pouco tempo após sua morte, o Brasil recebeu a primeira visita da Inquisição e a perseguição voltou a cair sobre sua família. 

    Várias de suas filhas foram acusadas de “judaizar” condenadas a penas como prisão, multa e penitências espirituais. Após esta última devassa, os membros da família de Branca se separaram e dividiram-se pelo Brasil.

As visitações dos inquisidores e a estrutura da Inquisição no Brasil:

    A atuação do Tribunal do Santo Ofício no Brasil começou tão logo a instituição pôde organizar uma estrutura que alcançasse o país. Já a partir de 1550, dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do Brasil, tinha poderes inquisitoriais.

    Na prática, porém, a Inquisição só passa a ganhar força aqui a partir da última década do século XVI. Em 1591, o Brasil recebeu a primeira “visitação” de um agente oficial do Tribunal do Santo Ofício, Heitor Furtado de Mendonça.

    Nestas visitas, os agentes licenciados analisavam os "pecados", promoviam celebrações, aceleravam casos e compilavam as denúncias. Eram representantes diretos do tribunal, que gozavam de todo o poder e prestígio da Inquisição. Ao todo, o Brasil teve quatro visitações oficiais (1591-1595, 1618-1620, 1627-28, 1763-1769). No entanto, nos períodos sem visitas, a Inquisição continuava ativa.

    Isso significou que o Brasil, para onde muitos cristãos-novos vinham para se distanciar da vigilância em Portugal, já não estava mais livre dos inquisidores. O Brasil, porém, nunca teve um tribunal inquisitorial em seu território, diferente, por exemplo, de Goa, domínio português na Índia que foi sede de um dos quatro tribunais do Santo Ofício montados por Portugal.

    No território brasileiro, a maior parte da atuação da Inquisição dependia dos agentes associados, membros do clero vinculados ao tribunal (sem integrá-lo), e dos chamados “familiares”, nome dado a civis que colaboravam com a Inquisição, isto é, agiam como espiões e denunciantes.

    Por conta de sua atuação, os familiares recebiam privilégios como isenção de impostos e alcançavam cargos importantes na administração colonial. Um dos casos mais famosos foi do militar português Antônio Borges da Fonseca, radicado em Pernambuco.

    Por mais de uma vez, Borges da Fonseca foi à Paraíba para prender cristãos-novos por “práticas judaizantes”. Sua atuação junto ao Santo Ofício rendeu boas graças em Lisboa. Ele chegou a governar a Paraíba entre 1745 e 1753 e seu filho, Antônio José Victoriano Borges da Fonseca, foi governador do Ceará entre 1765 e 1781.

    Para ser um familiar era necessário comprovar a fé católica e não ter “sangue infecto” (herança genética judaica), isto é, não ter ascendência judaica, muçulmana, indígena ou de pessoas negras, segundo definição do Santo Ofício. A atuação de familiares como Borges da Fonseca formou as bases do funcionamento da Inquisição no Brasil.

    Como não havia tribunais aqui, os casos, após serem analisados pelos agentes locais, eram remetidos ao Tribunal de Lisboa, onde a denúncia era formalizada e o caso, julgado. Os detidos, então, eram levados a Portugal para receber suas penas. Muitos nunca voltaram. Foi o caso de Ana Rodrigues.

    Ana Rodrigues é considerada a primeira moradora do Brasil a ser condenada à fogueira pela Inquisição. Ela foi denunciada por realizar práticas judaicas no engenho Matoim, no recôncavo baiano.

    Após a denúncia, ela foi levada a Portugal em 1593, já com 80 anos de idade, e ficou presa à espera do julgamento. Morreu na cela, antes de conhecer sua pena de condenação à fogueira.

As vítimas e as punições da Inquisição católica portuguesa:

    Aqueles considerados culpados pela Inquisição portuguesa podiam ser condenados a uma variedade de penas. Algumas eram mais brandas, como prisão. Havia também aqueles condenados a usar para sempre o hábito penitencial (o sambenito), uma espécie túnica que os marcava como culpados.

    Outras penas eram mais severas, como confisco de bens e exílio. De Portugal, muitos eram exilados para o Brasil ou Angola, no continente africano. O exílio, inclusive, teve papel importante na instalação de cristãos-novos aqui, uma vez que muitos condenados em Portugal ao exílio no Brasil resolveram ficar aqui.

    Por fim, havia aqueles condenados à morte por degolamento, enforcamento, estiramento e cremação, isto é, ser queimado vivo na fogueira. Boa tarde destas punições mortais ocorria em lugares públicos e movimentados de Lisboa, como o Terreiro do Paço (atual Praça do Comércio) ou na Praça do Rossio, em frente ao Palácio de Estaus, sede da Inquisição.

    Os processos inquisitoriais eram uma mistura de processo penal e condenação antecipada. Havia, como nos processos penais, acusação, testemunhos, juiz. As vítimas, contudo, não tinham direito de saber quem os havia denunciado. A prática de tortura era comum – e o torturado era obrigado a assinar documentos em que se comprometia a não revelar a tortura.

    Nos mais de 40 mil documentos acerca do Tribunal do Santo Ofício, guardados na Torre do Tombo, em Lisboa/Portugal, é possível encontrar detalhes que lançam luz sobre os processos investigativos da Inquisição.

    Conforme os documentos, entre as principais “provas” de que o cristão-novo estava “judaizando” estavam hábitos que, hoje, estão incorporados ao cotidiano brasileiro. Uma das descrições mais comuns nas denúncias era de que o denunciado costumava varrer a casa da frente para trás - da porta para o quintal -, um hábito de origem judaica.

    Outro “indício de judaísmo”, de acordo com os documentos, era o hábito de preparar a carne com bastante cebola e azeite – e não com banha de porco, como era costume à época, uma vez que judeus não comem porco. Descansar no sábado (shabat) também podia ser um problema para um cristão-novo, já que o sábado é o dia sagrado do judaísmo.

    A partir de relatos que denunciavam tais práticas, com denúncias que vinham de fontes anônimas, um sem-fim de cristãos-novos foi processado e punido pela Inquisição de Portugal. Conforme a historiadora brasileira Anita Novinsky, pelo menos 1.819 cristãos-novos do Brasil foram denunciados ao Tribunal do Santo Ofício, sendo 1.089 homens e 721 mulheres.

    No entanto, com o avanço das décadas, os inquisidores passaram a atuar em duas frentes: os crimes contra a fé e os crimes contra a moral. Além de perseguir aqueles acusados de “judaizar”, os agentes passaram a perseguir homossexuais, bígamos, hereges e adúlteros.

    As denúncias, muitas vezes, vinham de dentro de casa. Em 1661, o barbeiro Salvador Rodrigues foi acusado de “sodomia” pelos próprios irmãos na cidade de Belém, na então capitania do Grão-Pará. A investigação do Santo Ofício encontrou uma rede maior de contatos do barbeiro e acabou por punir outras pessoas na cidade.

    Por todo o Brasil, a Inquisição atuou mais fortemente em locais como Pernambuco, Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará. O movimento inquisitório, portanto, seguia tanto o movimento econômico quanto o movimento populacional.

    Quando a cana-de-açúcar do Nordeste era o principal produto de exportação do Brasil, as forças inquisitórias atuaram mais fortemente no Nordeste. Quando metais preciosos foram descobertos em Minas Gerais, os olhos da Inquisição se voltaram para os mineiros.

    O Rio de Janeiro, que passou a experimentar forte crescimento populacional e teve uma das maiores comunidades de cristãos-novos da colônia, foi devassado pelo Tribunal do Santo Ofício. 

    Importante para os planos da Coroa portuguesa de expandir o Império pela região amazônica, o Pará foi, inclusive, o destino da última visitação de um emissário da Inquisição no Brasil, entre 1763 e 1769.

    Os números exatos de brasileiros denunciados ou condenados pela Inquisição não estão definidos. Há, nos registros da Torre do Tombo, um grande número de casos de cristãos-velhos acusados no Brasil, por exemplo, de heresia. Os arquivos, contudo, não foram completamente estudados, o que não permite fixar um número.

    Entre os pesquisadores também não há um consenso da quantidade total de denunciados e condenados no Brasil pelo Santo Ofício, somados cristãos-velhos e cristãos-novos. Uma coisa, porém, é certa: o número está na casa dos milhares.

Cristãos-novos e a colonização do Nordeste brasileiro:

    Quando a portuguesa Maria Tomásia Barbosa acompanhou o marido, o capitão-mor Pero Coelho, em expedição para a Serra da Ibiapaba, o Ceará era pouco mais que uma faixa terrestre pouco habitada, considerada de difícil acesso e sem atrativos.

    Coelho pretendia abrir caminho pelo território cearense, subjugar os povos indígenas da região e estabelecer uma estrada para o Maranhão, a partir do qual o Reino poderia se expandir para a região amazônica.

    A expedição do marido de Maria Tomásia, em 1605, foi um fracasso. O caminho que tomaram, pelo litoral cearense, quente e arenoso, castigou os homens. A batalha contra os povos indígenas, perderam. No caminho de volta, o filho mais velho do casal morreu. Quando, enfim, deixaram o Ceará derrotados, Pero Coelho voltou a Portugal, Maria Tomásia permaneceu na Paraíba.

    Tomásia era filha de um cristão-velho e uma cristã-nova. Sua família, descendente de judeus convertidos à força, fez do Brasil sua morada. Sua irmã, por exemplo, era casada com um capitão-mor - cargo de chefia militar da era colonial - da Paraíba.

    A trajetória de Maria Tomásia é semelhante à de milhares de cristãos-novos que vieram ao Nordeste e aqui participaram do processo de colonização. Fernando de Noronha, por exemplo, que dá o nome à ilha turística (que atualmente é administrada por Pernambuco), era cristão-novo.

    No início, os cristãos-novos integraram a indústria de exportação do pau-brasil. Mais tarde, muitos atuaram no ramo da cana-de-açúcar, que veio a se tornar o principal produto brasileiro de exportação, e foram proprietários de muitos engenhos nas capitanias da Paraíba, de Itamaracá, da Bahia e de Pernambuco.

    Nem todos eram abastados, muitos atuaram como agricultores e simples comerciantes. No entanto, conforme destaca o historiador Nilton Almeida, este grupo possuía uma vantagem na pouco organizada sociedade do Brasil colonial: sabiam ler e escrever.

    “Eles sabiam ler e escrever pois já liam o livro sagrado (Bíblia hebraica). O judaísmo tem essa particularidade de fazer com que as pessoas se alfabetizem para ler os textos sagrados”, explica o professor. “A Inquisição, vendo o tamanho do Brasil e que essas comunidades [judias e cristãos-novos] estavam tendo determinada importância, começa a perseguir”, aponta o historiador.

    Diante das visitações, da vigilância dos “familiares” e das constantes rondas do Bispado de Pernambuco, muitos cristãos-novos procuraram abrigo em uma região vizinha, porém relativamente vazia, onde poderiam, novamente, tentar recomeçar suas vidas: o Ceará.

Ceará: terra de oportunidades e anonimato:

    Até o século XVIII, o Ceará era pouco relevante, uma capitania periférica. Na verdade, até 1799, o Ceará foi vinculado a Pernambuco, e inclusive pagava impostos ao governo pernambucano. O próprio capitão-mor do Ceará era nomeado por Pernambuco. E, claro, a sede do poder inquisitório da região estava na cidade pernambucana de Olinda.

    O cenário encontrado no Ceará por Maria Tomásia só começou a se alterar a partir da segunda metade do século XVIII, com a concessão das sesmarias e a implantação das fazendas de gado para a florescente indústria da carne, que tinha como principais destinos o Maranhão e Pernambuco.

    Por isso, cristãos-novos e seus descendentes se dirigiram para o Ceará como terra de refúgio, pelo anonimato, e de oportunidades, pelas possibilidades. No estado, os cristãos-novos participaram da construção dos primeiros grandes centros habitacionais do estado, como Aracati e Sobral, e deixaram suas marcas na história do estado.

    “O que vamos encontrar aqui no Ceará: muitos descendentes de cristãos-novos, gente de segunda, terceira geração que veio para Ceará”, aponta Nilton Almeida. É o caso de Josefa Maria dos Reis. Os pais de Josefa, cristãos-novos nascidos no Brasil, foram condenados à prisão, em 1731, por “judaizar” na Paraíba. Três irmãos de Josefa receberam a mesma pena no ano seguinte.

    Josefa, ainda criança, conseguiu ajuda e deixou a Paraíba para se estabelecer na Vila de Aquiraz, no Ceará. Josefa casou com o sergipano António de Freitas Coutinho, que chegou ao posto de alcaide, um cargo administrativo relevante no Brasil colonial. Após ficar viúva, Josefa casou novamente.

    Ela viveu a maior parte da vida na pequena Vila da Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, que daria origem, mais tarde, à cidade de Fortaleza, atual capital do Ceará. Foi enterrada, inclusive, na então igreja matriz da vila.

    Conforme escreve Nilton Almeida em sua tese “Cristãos-novos e seus descendentes no Ceará Grande: a Inquisição nos sertões de fora”, apresentada na Universidade de Nova Lisboa, em Portugal, “o exemplo de Josefa evidencia que esse lugar ermo no Nordeste do Brasil colonial [Ceará] constitui terra ideal, onde os ‘impuros’ de sangue, em geral, podiam se misturar à gente comum e levar a vida dentro de relativa segurança”.

A Inquisição no Ceará:

    Apesar do cenário favorável, a capitania do Siará Grande - como era chamada - não estava livre por completo dos inquisidores. Conforme o pesquisador baiano Luiz Mott, foram encontrados pelo menos 7 casos de moradores do Ceará que foram denunciados à Inquisição. Um deles, inclusive, chegou a ser preso e condenado ao exílio.

    Das sete denúncias encontradas contra habitantes do Ceará, três foram por homossexualidade, ou “sodomia”, como o Tribunal do Santo Ofício se referia à época. Outras duas denúncias foram de solicitação por parte de sacerdotes. Uma das denúncias foi de sacrilégio contra um homem escravizado e duas denúncias foram de bigamia, isto é, de um indivíduo casado com duas pessoas.

    Foi justamente um destes casos de bigamia o que recebeu a punição mais severa no território cearense. O caso ocorreu com o português José Luís Pestana, que vivia no Brasil desde jovem.

    Primeiro, ele casou em Pernambuco, onde estudava. Lá, foi à falência. Depois, fugiu para o Ceará. Aqui, casou novamente, obteve posses e chegou a ser juiz ordinário nas proximidades de Sobral.

    No Ceará, José Luís Pestana adotou o nome de Polinardo Caetano Cesar de Ataíde. Após nove anos de casamento, a farsa foi descoberta. Ele foi preso em 1778, levado a Lisboa, ficou dois anos em prisão e em 1780 foi condenado a seis anos de degredo em Angola. Nunca mais se ouviu falar em Polinardo.

    Agentes locais da Inquisição vinham de Olinda para “punir” pecados mais leves no Ceará, infrações das quais sequer era preciso guardar registro, e remetiam ao Santo Ofício os mais pesados, que justificavam os custos do processo, como os registros, o transporte a Lisboa, a acusação em tribunal.

    Nas últimas décadas do século XVIII, a Inquisição já não possuía a força e os favores que a tornaram implacável nos séculos anteriores. Em 1753, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, convenceu o rei de Portugal a encerrar a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. A partir dali, seriam todos cristãos, independente de quando.

    Tanto no Brasil quanto em outras partes do Império português, as atividades inquisitoriais arrefeceram lentamente. Em 1812, o Tribunal do Santo Ofício em Goa, na Índia, foi extinto. Em 1821, os deputados eleitos para as Cortes Gerais após a Revolução Liberal do Porto – que exigiu que a família real deixasse o Brasil e voltasse a Portugal - votaram pelo fim da Inquisição, encerrada após 285 anos.

    O último inquisidor-geral do Santo Ofício de Portugal, inclusive, foi um nordestino, o bispo pernambucano Azeredo Coutinho, fundador do Seminário de Olinda. Em 1802, ele deixou o Brasil para o assumir Bispado de Elvas, em Portugal, e foi nomeado inquisidor-geral do reino, cargo que exerceu até o Tribunal ser encerrado.

Descendentes retomam raízes judaicas no Ceará:

O sobralense Ireland Oliveira descobriu ser descendente de Branca Dias, uma das matriarcas mais importantes da era colonial.


    Após a devassa sofrida no fim do século XVI e o início do século XVII, os descendentes de Branca Dias espalharam-se por outras regiões do Brasil. Alguns vieram ao Ceará e fizeram morada na região do rio Acaraú, no norte do Ceará, onde viria a se formar a cidade de Sobral.

    Entre os descendentes de Branca Dias, uma das mais importantes matriarcas do período colonial, estão nomes figuras como o político Ciro Gomes e o empresário Cândido Pinheiro Koren de Lima, fundador da rede hospitalar Hapvida (que alias, a Sra. Mônica Faldini Pinheiro Koren de Lima cita no mini documentário sobre branca dias lançado pela cantora sefaradita Fortuna o seguinte: "Ceará em hebraico significa tempestade. quando olhamos para uma explicação na Kabbalah, significa “ventos uivantes”, “ventos tempestuosos”. e os kabbalistas dizem que aqui é o lugar onde aconteceram os ventos uivantes da época da inquisição. das almas uivantes, que buscam se encontrar de algo que foi abruptamente cortado das pessoas que chegaram ao Brasil").

    A extensão de sua descendência, porém, é ainda mais ampla. Foi o que descobriu o auditor fiscal Ireland Oliveira. Criado em família católica na cidade de Sobral, Ireland ouviu dos mais velhos, na infância, que tinha “sangue judeu”. O episódio deixou marcas na memória - e uma dúvida que só seria respondida décadas mais tarde.

    Já adulto, professor da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), Ireland buscou a genealogia da família. “Comecei a fazer perguntas a mim mesmo, perguntas no aspecto de: quem eu sou? Eu comecei a levantar aspecto genealógico, documentos de família, certidões de nascimento, de casamento, documentos de igreja, porque antes não existia cartório, comecei a levantar estas informações”, explica o professor.

    Após muita investigação, chegou a informação: Ireland é descendente da famosa matriarca Branca Dias. Com as descobertas sobre seu passado familiar, o auditor fiscal começou a frequentar como observador, em 2005, a SIC - Sociedade Israelita Cearense, onde se aproximou da cultura judaica e dos ensinamentos da Lei de Moisés.

    Em 2012, após um processo supervisionado por um rabino de Minas Gerais, Ireland converteu-se ao judaísmo. Para Ireland, o retorno à fé de Branca Dias é um “ato de resgate da fé e da história judaica”.

    A família, embora tenha acompanhado a descoberta e a conversão de Ireland, não seguiu seus passos. Apenas o filho mais novo, assim como o pai, optou por converter-se ao judaísmo. Hoje, Ireland e o filho frequentam juntos a Sociedade Israelita Cearense, agora como judeus.

    "É como se você abrisse as portas para uma imensa biblioteca, e que um determinado texto, uma determinada afirmação, um determinado costume lhe abrisse as portas para diversas reflexões”, avalia Ireland sobre o retorno à religião de seus antepassados. “Para mim, é motivo de muita satisfação, de crescimento espiritual”.

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CRÉDITOS

Autor: Leonardo Igor, g1-CE

Adaptação: Macabeo Gomez Amarias - מכבה גומר אמריה           

Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2023/07/06/inquisicao-no-brasil-como-o-tribunal-do-santo-oficio-perseguiu-brasileiros-por-seculos.ghtml  

Imagens: 

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02 outubro, 2023

Brasil marrano - 1ª parte [*]

    Os estudos sobre o marranismo brasileiro tem despertado grande interesse. No Laboratório de Estudos sobre Intolerância - LEI da Universidade de São Paulo, as pesquisas sobre Inquisição, cristãos-novos (marranos) e criptojudaísmo no período colonial, dirigidas até então pela professora Anita Waingort Novinsky, Z'L (falecida no dia 20 de julho de 2021), mapeiam o Brasil, apresentando um quadro do fenômeno que perdurou quase 300 (trezentos) anos, marcando a mentalidade brasileira.

   

    Com pouquíssimas exceções, os pesquisadores aos quais vou me referir no decorrer deste texto são todos pesquisadores do LEI, orientados pela professora Anita Novinsky.

    Nos primeiros séculos da colonização, os cristãos-novos estabeleceram-se principalmente no Nordeste do Brasil, especialmente na Bahia e em Pernambuco.                                                    

    Nesse período, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa enviou para a região duas Visitações (em 1591 à 1595 e 1618) [1], além da presença constante de funcionários da Inquisição, comissários e familiares, que vigiavam, prendiam e enviavam esses cristãos-novos para Lisboa, onde eram julgados como hereges judaizantes.

    Para saber quem eram esses cristãos-novos, as principais fontes são os documentos manuscritos do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e os processos de habilitação de genere [2]. Ambos são também fundamentais para o estudo da “pureza de sangue” e um dos instrumentos para se conhecer a origem das famílias.

    Os Estatutos de Pureza de Sangue [3], legislação de origem econômica, racista, estabeleceu que os conversos, antigos judeus, (chamados cristãos-novos em Portugal) não eram iguais aos cristãos-velhos uma vez que o Judaísmo era transmitido pelo sangue; esses Estatutos foram adotados pela Espanha e Portugal e em todo o império ultramarino.

    Desde o início do século XVII os inquisidores iniciaram a composição de um Livro que contivesse o registro dos nomes de todos os portugueses suspeitos de qualquer culpa contra a fé e os costumes. Essa listagem continuou até a segunda metade do século XVIII.

    Os nomes dos cristãos-novos naturais do Brasil ou aqui moradores no século XVIII já se encontram publicados em livro – Rol dos Culpados [4]. Encontramos ali não somente os presos, mas também aqueles denunciados como cristãos-novos.

    A relação mais completa compilada até agora dos moradores do Brasil, e dos naturais do Brasil presos pela Inquisição foi publicada por Anita Novinsky [5] no livro Inquisição: prisioneiros do Brasil (séc. XVI à XIX).

    No século XVI, de duzentos e vinte e três (223) prisioneiros, quarenta e nove (49) eram cristãos-novos; no século XVII, do total de oitenta e sete (87) presos, cinquenta e nove (59) eram cristãos-novos. 

    No século XVIII foram presos seiscentos e sessenta e três (663) brasileiros, sendo quatrocentos e oitenta e quatro (484) cristãos-novos, acusados de heresia judaizante [6], o que demonstra claramente o maior interesse do Santo Ofício pelos marranos do que por aqueles acusados de outros crimes.

    O crime de que eram acusados significava que, segundo os Inquisidores, após a conversão e o batismo, os cristãos-novos continuavam a professar a antiga fé em segredo.

    Era considerado crime, por exemplo, não trabalhar aos sábados, não comer carne de porco, peixe de escamas, mariscos, lebre, rezar as orações católicas sem dizer Jesus no fim, enterrar os mortos em terra virgem e covas rasas e muitas outras práticas.

    Entre as celebrações mais comuns estava o jejum do Dia Grande (Yom Kipur) do mês de setembro, o jejum da rainha Esther, a Páscoa Judaica (Pessach). A crença em um Deus único, a ideia da salvação pela crença na Lei de Moisés, a espera pelo Messias e a rejeição a imagens (feitas de pau e pedra), à idolatria e a alguns dos dogmas cristãos (como a virgindade de Maria e o Espírito Santo) estavam presentes entre os cristãos-novos.

    Todo cristão-novo confessava haver durante um certo tempo ter tido crença na Lei de Moisés para nela salvar sua alma. E, por observância da dita Lei, praticara determinadas cerimônias e se comunicara com correligionários da dita Lei.

    A confissão era necessária para salvar a vida – o processo inquisitorial assim o exigia. Porém, é certo que, embora nem todos os cristãos-novos fossem criptojudeus, todos conheciam o criptojudaísmo e todos tinham uma memória do Judaísmo.

    Os cristãos-novos da Bahia e Pernambuco no século XVI e início do XVII tem sido estudada por alguns historiadores [7]. O Doutorado de Ângelo de Assis [8] - orientando de Ronaldo Vainfas - sobre a família de Heitor Antunes e Ana Rodrigues, senhores de engenho em Matoim, na Bahia, trouxe contribuição significativa para o tema do criptojudaísmo. 

    A família Antunes mantinha em seu engenho, ao lado da capela, uma esnoga (sinagoga para os judeus ibéricos); diziam-se descendentes dos Macabeus bíblicos. Mantinham vários costumes judaicos, como abençoar os filhos passando a mão pelo rosto, da cabeça ao pescoço, rezar orações judaicas movimentando o corpo à maneira dos judeus, mostrar repulsa a símbolos cristãos, como o crucifixo entre tantos outros.

    O patriarca já havia falecido quando o Visitador chegou à Bahia, mas a matriarca e suas filhas foram presas e enviadas para Lisboa, onde Ana, uma anciã com mais de 90 anos, faleceu nos cárceres.

    Contemporâneo da família Antunes foi o poeta Bento Teixeira, autor do primeiro poema épico brasileiro, Prosopopeia [9], que viveu na Bahia e em Pernambuco no final do século XVI, tema de estudo de Eneida Ribeiro. Conhecedor do Antigo Testamento, quando menino foi ensinado no Judaísmo pela mãe.

    Chegou a querer se circuncidar, no que foi impedido pelo pai. Frequentava a esnoga, onde discutiam o Judaísmo, o papel das mulheres na religião, e discussão de dogmas da Igreja, como a Santíssima Trindade e a virgindade de Maria.

    A Bahia do século XVII foi o tema de Anita Novinsky, com sua obra clássica Cristãos-novos na Bahia, onde apresenta o conceito fundamental para a compreensão do fenômeno do cristão-novo: o “homem dividido”, dividido entre o mundo católico e o judaico [10], conceito que vários autores tem adotado como Yovel, Morin, Abensur e tantos outros filósofos [11].

    Daniela Levy [12] desenvolveu pesquisa para o Mestrado sobre as vicissitudes dos judeus na América holandesa do século XVII, A história de um povo em busca de uma terra, as dificuldades enfrentadas em uma época de profundo antissemitismo, onde a Inquisição deixava aos judeus poucas opções de moradia entremeiam a reconstrução dessa história.

    Vivendo em um período de “relativa” tolerância no nordeste brasileiro ocupado por holandeses, os judeus tiveram que novamente partir, após a retomada do território pelos portugueses.

    Um dos navios que saíram do Recife, com 23 judeus chegou a colônia holandesa na América do Norte de Nova Amsterdã, atual Nova York, esse grupo foi responsável pela fundação da primeira colônia judaica na maior cidade da primeira nação realmente democrática do mundo.

    Para o século XVIII, estudos recentes indicam que os cristãos-novos representavam no mínimo cerca de 10% da população livre do período no Nordeste. Em Pernambuco, após a expulsão dos holandeses [13], a ação inquisitorial não foi intensa (o Tribunal do Santo Ofício viveu na segunda metade do século XVII um período de retração).

    Muitos cristãos-novos haviam saído de Recife e Olinda e seus arredores e se estabelecido na Paraíba, região pertencente ao bispado de Pernambuco, onde o Santo Ofício agiu com mais rigor no século XVIII.

    No século XVII os cristãos-novos da Paraíba desfrutavam de uma posição social elevada, mas com a crise da economia açucareira entraram em declínio. No século XVIII ocorreu uma diversificação das atividades produtivas: 37% eram lavradores – cerca de metade cultivando a cana de açúcar e os outros dedicados ao plantio do tabaco, da mandioca e gêneros de subsistência.

    Outros se dedicaram à criação de gado, foram homens de negócios, militares, artesãos e alguns letrados. O que os caracteriza é que muitos tinham duas ou mais atividades diferentes.

    Como a lavoura e a pesca, a lavoura e o comércio, o comércio e a criação de gado. Houve a tendência de deslocamento do litoral para o sertão desde o início do século XVIII, o que não impediu que na década de 1730 se iniciassem as prisões desses cristãos-novos.

    Segundo Fernanda Lustosa, que estudou a região, o criptojudaísmo encontrado na comunidade marrana da Paraíba era forte, com o ensino da Lei de Moisés presente na maioria das famílias. 

    Algumas cerimônias, como o jejum do “Dia Grande”, o respeito ao Shabbat (guardar os sábados como se fossem dias santos), vestindo neles roupa limpa, a manutenção das regras dietéticas casher, não comendo carne de porco, coelho, lebre, peixe de escamas e alimentos com sangue.

    Rezavam os salmos de Davi e o pai nosso sem dizer Jesus no fim. Era um grupo crítico em relação ao Catolicismo, considerando Jesus um feiticeiro e desprezando o culto de imagens, consideradas apenas como “barro cozido”; duvidavam da virgindade de Maria e negavam a adoração da hóstia [14] Bruno Feitler [15] compartilha com Lustosa a confirmação do criptojudaísmo da Paraíba, em Doutoramento defendido em Paris.

    Após denúncia feita à Inquisição em 1726, cinquenta pessoas foram presas na Paraíba e enviadas para julgamento em Lisboa. Duas delas receberam a pena de morte, oito morreram nos cárceres do Santo Ofício e a maior parte nunca voltou para a Paraíba.

    Na Bahia, a comunidade cristã-nova continuou a atividade mercantil que marcou o século XVII, embora houvesse também senhores de engenho, lavradores, médicos, advogados e pequenos artesãos. No século XVII, cerca de 31% eram mercadores, 20% lavradores e o restante principalmente artesãos [16].

    Para o século XVIII, Suzana Santos encontrou uma proporção de mercadores maior: temos 64% dedicados ao comércio e 13% ao trabalho agrícola (5% à mineração) [17]. Nessa época, também predominaram as atividades comerciais.

    Um dos motivos desse aumento no número de mercadores é que na Bahia, muitos cristãos-novos haviam chegado à região no século XVIII, estando ali estabelecidos há pouco tempo quando o Tribunal do Santo Ofício investiu contra eles.

    É na Bahia encontramos um dos mais interessantes cristãos-novos: Antônio Cardoso Porto, cristão-novo português que havia vivido na França – na comunidade judaica de Bordeaux - chegou à Bahia no início do século XVIII.

    Homem de negócios estabeleceu-se na cidade do Salvador. Conhecia e praticava o Judaísmo – e não o criptojudaísmo encontrado entre os cristãos-novos nascidos no Brasil. 

    Ensinou sua esposa Ângela de Mesquita hábitos de higiene como o banho mensal na mikvê [18], conhecia as datas corretas das celebrações religiosas, sabia hebraico, dizia orações - nos anos em que ficara em Bordeaux, tornara-se judeu.

    Era amigo de Miguel de Mendonça Valladolid [19], outro cristão-novo retornado ao Judaísmo (que na Bahia voltou – ao menos formalmente - ao Cristianismo, tendo-se rebatizado). 

    Espanhol, vivera na Holanda e França. Chegou à Bahia no mesmo período que Antônio Cardoso Porto, e os dois podem ser considerados como heresiarcas (aqueles que ensinavam o Judaísmo aos outros cristãos-novos).

    Viajando da Bahia para as Minas Gerais, fixando-se em São Paulo, Miguel Valladolid confessou ser prosélito do Judaísmo, tentando passar aos cristãos-novos – já pouco conhecedores do Judaísmo, um pouco das tradições de seus antepassados. Apesar de ter confessado suas culpas e delas ter se arrependido, foi condenado à morte.

    Em São Paulo, que até meados do século XVIII era uma região bastante pobre, somente três pessoas foram presas e condenadas pelo Santo Ofício no final do século XVII, apesar de a população cristã-nova ser bastante numerosa, tendo raízes no século XVI, como demonstram as pesquisas de Marcelo Amaral Bogaciovas. 

    Dois eram irmãos, filhos de um banqueiro português, que vieram para São Paulo para fugir do Santo Ofício. Um deles, Teotônio da Costa, foi relaxado ao braço secular [20].

    Desde o século XVII encontramos cristãos-novos entre os desbravadores e formadores do território nacional. Antônio Raposo Tavares, organizador da primeira expedição de reconhecimento geográfico que abrangeu todo o espaço continental da América do Sul, era de família cristã-nova de Beja [21], e após a morte de sua mãe, cristã-nova, foi criado por uma prima desta que tornou-se sua madrasta. Enquanto Raposo Tavares estava nas minas, sua madrasta era torturada nos cárceres inquisitoriais.

    Nas Minas Gerais [22], atraídos pelas oportunidades do ouro, cristãos-novos vieram de outras regiões do Brasil, especialmente Bahia e Rio de Janeiro. Porém, a maioria veio de Portugal.

    Nas minas se estabeleceram em Vila Rica, Mariana, Serro Frio, Cachoeiro e região do rio das Mortes. Mantinham roças de mandioca, eram mineiros, negociavam ouro e pedras preciosas, havia alguns profissionais liberais, como médicos, mas principalmente, dedicaram-se ao comércio, trazendo para a região gêneros essenciais para a subsistência.

    Negociantes cristãos-novos da Bahia e do Rio de Janeiro enviavam “carregações” para as Minas. Alguns ali mantinham residência, deixando na cidade de origem suas famílias, indo e vindo entre a região e o litoral.

    Levavam para lá vestimentas como chapéus, camisas, calções de pano de algodão; comerciavam panos de linho, aguardente, sal, açúcar, queijos, peixe seco, cavalos, gado e escravos [23].

>>> Continua na 2ª parte.

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[*] Alguns trechos deste texto fazem parte do artigo “Um Brasil subterrâneo; Cristãos-novos no século XVIII”, de minha autoria, publicado em livro editado por Keila Grimberg, História dos judeus no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005, pp.137-160.

[1] Ronaldo Vainfas (ed.): “Introdução” Denunciações da Bahia. São Paulo, Companhia das Letras, 1997; Eduardo d´Oliveira França e Sonia Aparecida Siqueiraª “Introdução” a “Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo inquisidor e visitador licenciado Marcos Teixeira – Livro das confissões e ratificações da Bahia” in Anais do Museu Paulista. São Paulo, tomo XVII, 1963. Sonia Aparecida Siqueira: A Inquisição portuguesa e a sociedade colonial. São Paulo, Ática, 1978. Alguns autores trataram da ação inquisitorial das Visitações no Nordeste e do período holandês. Ver entre outros, Arnold  Wiznitzer: Os judeus no Brasil colonial. São Paulo, pioneira, 1966; Elias Lipner: Os judaizantes nas capitanias de cima. São Paulo, Brasiliense, 1969; José Antônio Gonçalves de Mello: Gente da Nação. Recife, Massangana, 1989.

[2] Os manuscritos do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa estão arquivados em Lisboa no Arquivo Nacional da Torre do Tombo; os processos de habilitação de genere são encontrados nos arquivos das Cúrias da Igreja Católica em diversas cidades brasileiras.

[3] Ver Albert Sicroff: Les Controverses dês Status de Pureté de Sang en Espagne du Xve au XVIIe siècle. Paris, Librarie Marcel Didier, 1960; Charles Amiel: “La pureté de sang” in Espagne-Études Inter-Ethniques, 6, 1983. Anita Novinsky: A Inquisição. 4a ed, São Paulo, Brasiliense, 1986; Maria Luiza Tucci Carneiro: Preconceito racial no Brasil colônia. São Paulo, Brasiliense, 1983.

[4] Anita Novinsky: Inquisição - Rol dos Culpados – fontes para a história do Brasil, século XVIII. Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1992. O Rol dos Culpados – século XVII está no prelo.

[5] Anita Novinsky: Inquisição – Prisioneiros do Brasil, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 2002.

[6] Ibidem, p.39.

[7] Ver Wizniter, A. op. cit; Ângela M. Vieira Maia: À sombra do medo. Cristãos-velhos e cristãos-novos nas capitanias do açúcar. Rio de Janeiro, Oficina Cadernos de Poesia, 1995; Elias Lipner, op.cit.

[8] Ângelo Adriano Faria de Assis: Macabeas da Colônia: criptojudaísmo feminino na Bahia- séc. XVI-XVII. Niterói, UFF, Doutoramento, 2004, mimeo.

[9] Prosopopeia – poema épico que relata a viagem e o naufrágio de Jerônimo de Albuquerque, publicado pela primeira vez em 1601, um ano após a morte do autor.  Ver Eneida Ribeiro Bento Teixeira: o marrano que teve a prisão por recreação, a solidão por companhia e a tristeza por prazer. Relatório de Qualificação (Mestrado). São Paulo, FFLCH-USP, 2005, mimeo.

[10] Anita Novinsky: Cristãos-novos na Bahia, São Paulo, Perspectiva, 1972, p.162.

[11] Yirmihahy Yovel: Spinoza and other Herectics. Princenton, Princenton University Press, 1989, 2 vols. Edgar Morin: Os meus demônios. Sintra, Publicações Europa América, 1994; Jean Pierre Winter. Os errantes da carne: estudos sobre a histeria masculina. Rio de Janeiro: Cia. de Freud, 2001; Antônio Damásio: Looking for Spinoza – Joy, Sorrow and the Feeling Brain. New York, Hartcourt, 2003; Michel Abensur: Le Paria – une figure de la Modernité. Tumultes, no 21-22, nov.2003, ed. Kimpe, 2003.

[12] Daniela Levy: A expansão dos judeus sefaradim no novo mundo (Pernambuco, século XVII). (Mestrado em andamento).

[13] Esse período é fundamental para a história das religiosidades no período colonial período. Não é possível examiná-lo aqui devido à riqueza do tema!

[14] Ver Fernanda Lustosa: “Marranismo na Paraíba: adaptação e resistência”. In Lina Gorenstein e Maria Liza Tucci Carneiro (org.): Ensaios sobre a Intolerância – Inquisição, Marranismo e Anti-semitismo. São Paulo, Humanitas/FFLXH-USP, 2002, p.141-142. Ver também da mesma autora, Raízes judaicas na Paraíba colonial. São Paulo, FFLCH-USP, Mestrado, 2002 (mimeo) e Bruno Feitler: Inquisition, juifs et nouveaux-chrétiens au Brésil. Le Nordeste, XVIIe-XVIIIe siècles. Louvain, Presses Universitaires de Louvain, 2003.

[15] Ver Bruno Feitler: Inquisition, juifs et nouveaux-chrétiens dans lês capitanies du nord de l´Ètat du Br´sil aux XVIIème et XVIIIème siècles. Thèse de Doctorat. Paris, Écoles dês Hautes Études em Sciences Sociales, 2002.

[16] Ver Suzana Maria de Souza Santos: Marranos e Inquisição (Bahia, século XVIII). São Paulo, FFLCH-USP, Mestrado, 1997 (mimeo); “Uma família cristã-nova portuguesa na Bahia setecentista” in Lina Gorenstein e Maria Luiza Tucci Carneiro, op. cit., pp.145-174.

[17] Anita Novinsky: Cristãos-novos na Bahia, op. cit., p. 176.

[18] Mikvê, palavra hebraica que significa “reunião”. Piscina de água “viva”, acumulada da chuva ou de uma fonte, que é usada no ritual de purificação e ablução. Por exemplo, mulheres casadas usam a mikvê após a menstruação, antes de recomeçarem as relações sexuais com seus maridos. Ver Alan Unterman: Dicionário judaico de lendas e tradições. Trad. Paulo Geiger. Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed., 1992, p.175.

[19] Ver Claudeteane Rodrigues “Miguel de Mendonça Valladolid: um mercador cristão-novo” in Lina Gorenstein e Maria Luiza Tucci Carneiro, op. cit., pp. 215-220.

[20] “Relaxado ao braço secular” significava que o réu havia sido condenado a morte pelos Inquisidores. Como a Igreja Católica nunca “matava”, entregava o preso ao poder secular que executava a sentença. A pena era a morte na fogueira; se antes da execução da sentença o réu dissesse que desejava morrer pela Lei de Cristo, antes de ser queimado, era garroteado. Caso contrário, era queimado “em carne”, ou seja, vivo. Marcelo Amaral Bogaciovas está preparando dissertação de Mestrado sobre os cristãos-novos de São Paulo, com o título: Tribulações do Povo de Israel na São Paulo Colonial.

[21] Ver Anita Novinsky: “Cristãos-novos na construção do Brasil” in Arnaldo Niskier (coord.) Contribuição dos judeus ao desenvolvimento brasileiro. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras e Univ. Gama Filho, 1998, pp. 29-40.

[22] Ver Anita Novinsky: “Ser marrano em Minas Colonial” in Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH/Humanitas, nº 40, julho de 2001, pp. 161-176.

[23] Ver Lina Gorenstein Ferreira da Silva: Heréticos e Impuros – Inquisição e cristãos-novos no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Departamento de Informação e Editoração, 1995.

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CRÉDITOS

Autora: Lina Gorenstein Ferreira da Silva

Adaptação: Macabeo Gomez Amarias - מכבה גומר אמריה           

Imagens: 1ª - Profa. Dra. Anita Waingort Novinsky (Z’L). 2ª - Editora Planeta. 3ª - Pintura "Auto de Fé de la Inquisición", do pintor espanhol Francisco Goya. Foto: Real Academia de Bellas Artes de San Fernando - Madri.

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17 setembro, 2023

Livro potiguar remontou a história dos judeus no Seridó e região.

 


    Numa sexta-feira às 17h, do dia 10 de junho de 2011, o Humberto Ferreira Leite Z"L¹, professor aposentado do Departamento de História da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, lançou o livro independente História dos Judeus – No Seridó, no Sertão da Paraíba, na Serra de Borborema, no século XVII.

    O lançamento aconteceu na livraria da Cooperativa Cultural do Campus Universitário da UFRN. Sendo o livro um resultado de pesquisas realizadas em países como: Egito, Israel e França.

    Historiador, arqueólogo bíblico, teólogo, radialista e pesquisador, prof. Humberto escreveu sobre a história do povo judeu de Sefarad (península ibérica) a partir do Rio Grande do Norte.

    O livro mostrou inclusive como o autor traçou sua árvore genealógica até seu ancestral sefaradita do século 16 (chegado ao Brasil pela cidade de Belém no estado do Pará).

    Sua obra foi considerada de grande valor histórico e cultural, estando exposta na Biblioteca de Jerusalém em Israel.


    Porém, apenas 13 dias após o lançamento do livro, o Prof. Humberto faleceu aos 76 anos na madrugada da quinta-feira (23/06/2011).

    A cerimônia fúnebre ocorreu durante todo o dia no bairro da Candelária e o sepultamento se deu às 17h (23/06/2011) no Cemitério Morada da Paz em Emaús.

    O Professor era aposentado da UFRN com licenciatura em História, e na época estava viúvo há sete meses, deixou 03 filhas e 01 filho, nora, genros, netos e netas.

    Sendo ainda apresentador de um Programa de segunda a sexta-feira das 11:30 às 12h pela Rádio Nordeste FM.

    Sobre o seu livro História dos Judeus – No Seridó, no Sertão da Paraíba, na Serra de Borborema, no século XVII havia planos de fazer uma nova tiragem, dado ao sucesso de vendas da primeira edição (hoje se encontra fora de catálogo, merecendo uma nova edição revisada e ampliada).

¹Se utiliza o Z"L como abreviação de "zichronô livrachá" que em hebraico significa "que sua memoria seja uma benção", algo como "in memoriam".

Cláudia Maria de Figueiredo Moreira Leite Carneiro – Filha.

“Meu pai amado, um grande homem e um grande professor. Trabalhou no departamento de História no Campi Macau/RN e Natal/RN. Fez parte do Departamento de História e do Museu da UFRN. À ele e à sua carreira como Docente, deixo minha eterna admiração”.

Humberto Henrique de F. M. Leite – Filho.

“Meu pai nasceu de 7 meses, no sertão de Lajes do Cabugi/RN, cabia dentro de uma caixa de sapato e foi amamentado por uma mulher de aluguel, pois minha avó não tinha leite.

Foram muitas as adversidades: pneumonias e tantos outros problemas. Mas D'us realizou sua obra na vida dele, e isso é motivo de orgulho e motivação para continuar...

Há quatro anos vim morar com meus pais, pois ficava preocupado com sua pressão alta, o que o levou várias vezes ao hospital, e ele sempre dizia: "Meu filho, um dia será a última vez...".

Aninha Lorenzetti Figueiredo Leite – Filha.

“O maior legado dele foi sua própria família, tendo em vista que todos servem a D’us. Relançarei o livro dele e levarei ao Museu da diáspora, em Jerusalém!”.

Fernando – Sobrinho.

“Era um grande homem. Tive a honra de conversar muitas vezes sobre o projeto que ele acalentava, o livro sobre os judeus no nordeste brasileiro. Vamos lembrá-lo como um homem culto, servo de D'us. Que o Criador o tenha junto a Si”.

Referência:                                         

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/livro-remonta-a-historia-dos-judeus-no-nordeste/184706

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Autor: Macabeo Gomez Amarias - מכבה גומר אמריה           

Imagem: Arquivo familiar.

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12 setembro, 2023

Menorah de Pedras: Lançamento do Livro do escritor e poeta potiguar Janduhi Medeiros em Natal/RN.

    

    As raízes nordestinas a cada dia são mais judaicas! Prova disso é o grande despertar anussita no qual o Brasil vive já a alguns anos...

    Os descendentes dos sertanejos judaizantes que aqui se estabeleceram no passado colonial, principalmente no nordeste brasileiro foram chamados de cristãos-novos ou marranos (termo pejorativo que significa porco em espanhol), e conhecidos também como cripto judeus (judeus secretos), seridim (judeus do seridó) e o termo corrente bnei anussim (filhos dos forçados). 

    Comunidades religiosas surgem abraçando as vertentes do judaísmo; Grupos independentes de pesquisas trazem novos enfoques e Acadêmicos fazem descobertas para o resgate do Judaísmo nordestino e brasileiro como um todo.

    Assim sendo; o escritor, poeta, advogado e graduando em psicologia Janduhi Medeiros lança sua 2ª obra intitulada Menorah de Pedras. 

    O primeiro lançamento ocorreu durante a Festa de Sant'Ana de Caicó/RN, e agora é a vez de Natal/RN recebe-lo. 

    No dia 15 de setembro de 2023 às 19h, na Cervejaria Resistência na Praça dos Gringos em Ponta Negra. 

    "O livro Menorah de Pedras trata da estética e do cotidiano sertanejo, retratando a relação cultural do Seridó com a milenar cultura hebraica", afirmou Janduhi Medeiros.

    Com um tom mais poético (e menos prosaico) a obra combina as cores e as palavras, criando uma experiência única. Mais um lançamento da editora Sefarad - https://www.m3editora.com.br/marca/sefarad.html

    O 1° livro do autor foi A Pedra da Cruz (ISBN-13: 9788569247180, ISBN-10: 8569247184) lançado em 2016 com 140 páginas pela editora Caravela.

    A Pedra da Cruz é uma prosa ficcional que nos brinda com as influências judaicas do povo do Seridó. Mergulhando em pesquisas coloniais do brasil e o povoamento do sertão. O papel da inquisição católica (tribunal do santo oficio) na península ibérica e no brasil. 

    Foram mais de 5 anos coletando as influências ibero-judaicas na cultura, música, dança e na poesia. Janduhi Medeiros teve muitos insights ao pesquisar e isso fez eco ao relembrar sua infância. Ainda assim, existem fatos obscuros sobre o universo marrano do povo seridoense, que ficam no campo do imaginário sertanejo.

Para maiores informações, acesse:                                           

https://www.instagram.com/janduhi.medeiros/ - https://www.facebook.com/janduhi.medeiros/?locale=pt_BR - https://api.whatsapp.com/send?phone=5584999955730

 



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CRÉDITOS

Autor: Macabeo Gomez Amarias - מכבה גומר אמריה           

Imagens: Editoras (Sefarad, Caravela)

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07 setembro, 2023

Seridó: região interestadual localizada no sertão do Nordeste!


    Oriunda da antiga "Ribeira do Seridó", abrange vários municípios do RN (Rio Grande do Norte) e PB (Paraíba), dividida pelo IBGE em Seridó Ocidental Potiguar/Seridó Oriental Potiguar e Seridó Ocidental Paraibano/Seridó Oriental Paraibano 🏜️

    Outros municípios costumam se identificar como "Seridó" ou seridoense, o que agrega um total de 54 municípios, sendo 28 potiguares e 26 paraibanos, o que levou a uma subclassificação realizada pelo Ministério da Integração Nacional [Mesorregião Seridó] 🛣️  

    O Seridó potiguar ainda apresenta a melhor qualidade de vida do interior nordestino devido à histórica liderança política e econômica [Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM] 📈

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CRÉDITOS

Adaptação: Macabeo Gomez Amarias - מכבה גומר אמריה           

Imagem: Photofunia.com 

Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Serid%C3%B3

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Inquisição no Brasil: como o Tribunal do Santo Ofício perseguiu brasileiros por séculos.

Quase dois mil brasileiros foram julgados pelo tribunal formado por membros da Igreja Católica Apostólica Romana. Judeus ibéricos (Espanhóis...